Supositórios são formas farmacêuticas sólidas aplicadas por via retal, e são geralmente constituídos de uma base sólida que contém o ativo e que se dissolve ou se funde no interior da ampola retal, devendo passar do estado sólido para o líquido em temperatura corporal. Segundo Albuquerque (1965), o termo Supositório deriva provavelmente do latim suppositus (posto debaixo) e torus (toro ou fragmento de um ramo).
Excipientes dos supositórios
O supositório deve passar do estado sólido para o líquido na temperatura corporal seja por fusão, dissolução ou emulsão. Os excipientes utilizados para isso podem ser categorizados como:
- Excipientes gordos (hidrofóbicos):
- Gorduras naturais ou modificadas:
- Manteiga de cacau (pode se fundir em climas mais tropicais);
- Manteiga de cacau parcialmente substituída (adição de outros óleos e substâncias endurecedoras);
- Sebo de borneo (produto obtido de sementes do gênero Shorea, família das Dipterocarpáceas, produto também conhecido manteiga de illipe, minjak tengkawang, compartilha muitas semelhanças com a manteiga de cacau);
- Estearina de noz de palma (produto obtido por expressão de amêndoas de palmeira Eleaeis guineensis Lin, sendo dependente da associação com outras manteigas para a consistência correta);
- Copraol (obtido do óleo de coco e apresenta ponto de fusão pouco acima da manteiga de cacau e se contrai com o arrefecimento);
- Óleos hidrogenados:
- Óleo de sementes de algodão hidrogenado (ponto de fusão entre 35-39 °C, porém sua consistência deixa a desejar);
- Óleo de palma hidrogenado (sua fusão deve ser feita com cuidado pois acima de 42 °C pode apresentar uma série de problemas);
- Óleo de amendoim hidrogenado (apresenta baixo ponto de fusão e solidificação em 26 °C);
- Óleo de noz de coco hidrogenado (pode causar ação irritante);
- Glicerídeos semi-sintéticos (há muitos);
- Excipientes constituídos por álcoois ou por ésteres não glicerídicos;
- Excipientes mistos ou complexos (associações que visam principalmente reduzir os custos dos excipientes e melhorar sua consistência e temperatura de fusão);
- Excipientes hidrofílicos ou mucilaginosos (não dependem tanto da fusão e sim da sua dissolução no muco retal):
- Glicerina endurecida (tem ação laxativa, restringindo seu uso a laxantes, é também muito higroscópica e propensa a contaminações microbiológicas);
- Polietilenoglicol (sua dureza aumenta com o tamanho da cadeia polimérica, altamente higroscópico, não é compatível com certos fármacos, contudo apresenta baixa toxicidade);
- Tensoativos (usado para formar emulsões na preparação dos supositórios);
- Polissacarídeos (goma arábica, metilcelulose, carboximetilcelulose sódica, ágar-ágar, etc.);
- Auxiliares: Plasticizantes, conservantes, outros.
Fabricação dos supositórios
A fabricação é relativamente simples; os excipientes são fundidos com uma temperatura bem controlada (previamente determinada para os excipientes em uso, pois variam muito dependendo do tipo de material usado), e após a mistura o ativo pode ser adicionado, sendo importante determinar qual a temperatura ideal para a sua adição. É importante ressaltar que ativos muito termolábeis devem ser evitados neste tipo de formulação. A mistura é vertida sobre um molde (Figura 1) e resfriada para sua solidificação. Com a solidificação ocorre também a retração, fenômeno até certo ponto desejável para o desprendimento do molde.
O produto pode ser armazenado em placas de acetato de celulose, folhas de celofane termocoladas, alumínio-alumínio e protegidas do calor.
Figura 1. Representação de um molde de supositório usado no magistrado.
Características anatômicas e fisiológicas que favorecem a administração de fármacos por via retal
Por que administrar medicamentos por via retal?
Administrações pela mucosa da boca (os comprimidos sublinguais) apresenta como limitações o sabor desagradável de certos fármacos, e a via nasal não permite a administração de grandes doses, além de ter sua posologia pobremente controlada dada as secreções nasais. Na administração via retal, estas limitações são contornadas devido ao amplo espaço na ampola retal (que permite a administração de doses maiores), à rápida absorção, ao ambiente física e quimicamente brando e à administração relativamente prática (principalmente na pediatria).
Como apresentado nos demais tópicos, a absorção dos fármacos ocorre rapidamente pelas mucosas (definindo-se mucosas como o epitélio que reveste as cavidades úmidas do corpo). Do ponto de vista anatômico, a mucosa da boca, nasal e a ampola retal são as mucosas mais acessíveis do corpo humano, e portanto fontes importantes na administração de fármacos quando se deseja uma absorção rápida. Administrações pela mucosa da boca (os comprimidos sublinguais) apresenta como limitações o sabor desagradável de certos fármacos, e a via nasal não permite a administração de grandes doses, além de ter sua posologia pobremente controlada dada as secreções nasais. Na administração via retal estas limitações são contornadas.
A ampola retal é o segmento menos flexuoso do intestino grosso com cerca de 12 a 15 cm de extensão desembocando no ânus por um canal mais estreito com cerca de 2 a 3 cm de extensão.
Segundo Cestari (1941), "qualquer substância introduzida, de qualquer maneira, por via rectal, pára ao nível da ampola, pelo menos a 7-8 cm do orifício anal e a 2-3 cm para cima da região do esfíncter externo".
A ampola retal é recoberta ainda por uma mucosa lisa, constituída de 3 subcamadas, entre elas o epitélio simples, cilíndrico com numerosas invaginações tubulosas. Apesar de não apresentar vilosidades, apresenta vasta capacidade de absorção de diversas moléculas.
A distribuição de fármacos administrados por via retal ocorre por meio de três vias distintas: duas ocorrem pelas veias hemorroidais inferiores e médias, que ao final levarão as substâncias para a veia cava inferior, escapando do sistema porta e consequentemente do efeito de primeira passagem, a outra ocorre pelas veias hemorroidais superiores que levarão as substâncias para o sistema porta hepático, havendo o efeito de primeira passagem.
Como resultado, nos supositórios pequenos (que chegam até a metade inferior do reto), as substâncias passam pela veia porta em cerca de 25%, enquanto que os outros 75% seguem diretamente para a circulação sistêmica. Mas supositórios maiores, onde a absorção se faz nos 2/3 inferiores do reto, cerca de 50% passa pelo sistema porta-hepático, dada a maior proximidade com as veias hemorroidais superiores. Daí a importância de padronizar a forma e tamanho dos supositórios.
O reto praticamente não apresenta movimentos peristálticos, contudo, no reflexo da defecação, pressões intra-retais de 40-50 mmHg desencadeiam uma forte contração pela musculatura lisa. Apresenta temperatura média de 36,9 °C variando ao longo do dia entre 36,2 a 37,6 °C, apresentando cerca de 1 a 3 ml de muco com pH próximo de 7 e restos de fezes com cerca de 70% de água.
Portanto, o amplo espaço na ampola retal permite a administração de doses maiores, a rápida absorção é garantida e permite o escape do efeito de primeira passagem, o ambiente é física e quimicamente brando e a administração também se mostra prática (principalmente na pediatria).
Referências
Senior N. Review of rectal suppositories 1. Formulation and manufacture. Pharm J, 203: 703-06. 1969.
Referências
Albuquerque A.R.G.A. Administração de Fármacos por Via Rectal contribuição para o estudo dos supositórios. Dissertação de candidatura ao grau de doutor, apresentada a faculdade de farmácia da Universidade do Porto, 1965.
Bentley AO, Broom WA, Firth JB, et al. A text-book of pharmaceutics. London: Baillière, Tindall and Cox, 565-66: 1936.
Senior N. Review of rectal suppositories 1. Formulation and manufacture. Pharm J, 203: 703-06. 1969.
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